Meu pet já é velhinho e está com câncer: opero, trato ou não faço nada?
Uma das perguntas mais frequentes no consultório veterinário, quando se descobre que um cão ou gato idoso tem um tumor maligno, é: vale a pena operar ou fazer algum tratamento como a quimioterapia? Ou é melhor não fazer nada e deixar ele viver a vidinha dele?
Este é um questionamento comum das famílias dos pacientes, preocupadas com o bem-estar dos seus peludos já velhinhos, pois não querem que eles sofram, especialmente por já estarem em seus últimos anos de vida.
Posso dizer que compreendo perfeitamente essa preocupação, pois a última coisa que quero é que meus pacientes sofram, independentemente da idade deles. Porém, para essa pergunta, não existe uma única resposta, pois irá variar de caso para caso. De qualquer forma, um ponto todos têm em comum: o objetivo de sempre proporcionar o máximo de qualidade de vida para o animal, mais ainda do que com o tempo que ele ainda irá viver.
Mas como tomar essa decisão? Listo abaixo alguns critérios que nos ajudam a definir qual caminho seguir:
Condição clínica do paciente
Quando o cão ou gato com câncer é velhinho, mas tem uma boa condição clínica, ou seja, não tem outros problemas graves de saúde (problemas no coração, fígado ou rins, por exemplo), o tratamento ou cirurgia podem ser indicados.
Mas espera aí! Se o meu pet é idoso, é esperado que ele tenha outros problemas de saúde também, não?
Sim, de fato é muito difícil um animalzinho passar dos 8-10 anos de vida sem nenhum “desgaste” natural dos órgãos; a diferença é que há algumas degenerações que são mais leves e outras, mais graves.
Se o pet apresenta problemas graves de saúde, isso irá pesar na decisão do veterinário na hora de indicar um tratamento ou cirurgia. Às vezes, o animal ainda nem é tão idoso, mas apresenta uma condição clínica desfavorável que serve como um sinal de alerta, e a indicação pode acabar sendo não operar e nem tratar. Este é um dos principais motivos pelos quais nós, veterinários, pedimos tantos exames de sangue e de imagem antes de definir qual o melhor tratamento: precisamos saber a condição clínica geral daquele paciente para decidir o que podemos fazer para ajudá-lo.
O que quero deixar claro é que o fato de ser velhinho não é um impeditivo para a tentativa de cura ou melhoria de sua qualidade de vida, mas sim se ele está com condição clínica satisfatória para prosseguir com o tratamento indicado.
Tipo e local do tumor
A escolha do tratamento nos casos de câncer em animais idosos dependerá também do tipo e do local onde o tumor cresceu. O veterinário oncologista irá avaliar quanto da qualidade de vida do animal estará em risco de acordo com o local onde o câncer se instalou e de seu tipo, ou seja, a origem celular. Esse tumor é de crescimento rápido? Ele costuma causar sangramentos? Ele pode se espalhar para outros órgãos, causando as chamadas metástases? Todas essas questões precisam ser cuidadosamente avaliadas e a resposta para cada uma delas irá definir a conduta a ser seguida.
Se o tumor tiver potencial para fazer com que o animal pare de se alimentar ou beber água, ou puder começar a sangrar, cheirar mal ou causar dor, por exemplo, comprometendo a qualidade de vida (o que pode ocorrer em meses ou até mesmo semanas), então a cirurgia ou tratamento deverão ser considerados, sabendo-se que, se a decisão for não tratar, a expectativa de vida daquele paciente poderá ser bem curta.
Escolha da família
Na hora de definir o caminho a ser seguido nos casos de câncer em animais idosos, a escolha da família será determinante. É direito dos responsáveis pelo pet decidir se irão ou não realizar o tratamento ou cirurgia, depois de ouvirem as explicações e recomendações médicas, mas não é direito deixar o animal sofrer: qualquer que seja a decisão tomada, a qualidade de vida do pet deve ser sempre o ponto mais importante a ser considerado.
É claro que eu quero que meus pacientes vivam muitos e muitos anos, mas digo inclusive que a qualidade de vida deles é mais importante do que quantos anos eles ainda irão viver! A decisão nem sempre é fácil, compreendo. Mas tenho sempre isso em mente: mais importante do que o tempo que o animal irá viver é como ele irá viver o tempo que lhe resta.
Nosso companheiro peludo deve estar comendo, bebendo água, brincando (se ainda o fizer), sem dor, agindo como sempre agiu, seja ele mais ativo ou mais tranquilo.
Se houver indicação de cirurgia, quimioterapia, eletroquimioterapia ou de apenas cuidados paliativos para um cão idoso, é porque ajudará na qualidade de vida.
Ok, doutora, mas e se eu operar e ele morrer? E se eu optar pela quimioterapia e ele passar mal, sofrer muito, e eu me arrepender de ter feito? Não seria melhor não fazer nada?
Pois é, infelizmente essa resposta eu não tenho como dar. Digo que a vida de todos seria muito mais simples se pudéssemos tomar uma decisão e, caso não viesse o resultado que esperamos, voltar no tempo e tomar uma decisão diferente. Riscos sempre existirão, seja durante ou após uma cirurgia ou tratamento oncológico. Tomamos a melhor decisão possível, e eu, como médica veterinária, tomarei e indicarei todos os cuidados possíveis para preservar a vida e a saúde dos meus pacientes, mas o resultado final em parte ainda depende de algo maior que não está em nossas mãos.
O que sempre digo aos meus clientes é que cada um tem uma parte a cumprir: eu como médica veterinária, a família como “cuidador” e o pet como um ser vivo complexo, dinâmico, com órgãos e sistemas próprios, que funcionam de uma maneira que, por mais que estudemos, nunca iremos compreender totalmente, muito menos sobre os quais teremos total controle.
Curta seu pet, aproveite ao máximo os momentos com ele e saiba que quando chegar sua hora, todos teremos feito tudo para que essa hora passe da maneira mais tranquila possível, e seu pet de alguma forma sempre te agradecerá por tudo o que você fez por ele.